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Entre o Céu e a Terra

O ponto de partida para o desenvolvimento deste trabalho é a relação do homem o tempo e suas vertentes.

É certo que a fotografia encurtou as distâncias do mundo, porém penso que mais do que isso encurtou também nossas experiências. Hoje experimentamos através dos LCD’s dos computadores, tablets e celulares.

Numa busca frenética pelo prazer imediato o homem quer chegar mesmo antes de ter saído ao encontro. A vivencia do homem moderno se da por experiências quase sempre rasas e nem sempre realizadas presencialmente. Ansiamos por nosso idealizado tempo de lazer e quando chegamos ao lugar desejado o que fazemos é rapidamente voltar as nossas caixinhas mágicas a procura de outra coisa, o interesse pelo real é rápido, expresso, pensamos já conhecer tudo antes de ter visto.

O nosso imaginário que antes era o fator propulsor do desejo e da busca, hoje é raramente visitado, dado a vasta possibilidade de informações que permeiam vida e que chegam de antemão editada por outro olhar. Nosso mundo imagético é sintetizado, e resume, reduzindo a ínfima experiência pela ideia pressuposta.

Trabalhamos, corremos, saímos e chegamos sem ao menos construir um caminho. Acessamos tudo, vemos de um “todo” que quando chegamos de encontro, acreditamos já conhecer. Um déjà vu, e, ali mesmo no lugar proposto por nós, não olhamos, nem cheiramos ou sentimos, simplesmente estamos. Mesmo ali, de posse do presente presencial, com areia e agua nos pés a cabeça parte de volta as nossas fontes de informações, e deixamos de lado a verdadeira experiência para vislumbrar um futuro ainda que inconsistente e virtual.

É nesse caminho onde nem tudo é real e ao mesmo tempo tudo pode ser verdadeiro que construí esta série de imagens.

Onde se vê cores, transformei fotografias em filtros, e, nesses filtros está o que não se vê. São fotografias de lugares extremamente visitados onde dali subtraí multidões e aglomerações, procurei dissolver ao máximo sinais de pessoas, me apropriando apenas das cores geradas pelos reflexos de sol nos vidros ou luzes artificiais hiper saturadas, procurando apreender energia.

Onde se vê paisagem, fotografei lugares paradisíacos, e longínquos. Lhes tirando o viço, deixando apenas imagens mornas nada vibrantes, excluindo das paisagens o tom “cartão postal”, tirei delas todo o apelo convidativo da areia branca e água azul, e depois a cada par fiz uma “assamblage”.

Nas cores procurei colocar toda nossa inquietação e incessante busca e nas paisagens todos os nossos sonhos e infindáveis desejos, e, por fim, aprisionei estas obras ora em caixas de madeira, ora em acrílico, procurando talvez surpreender ou provocar o espectador.

Lugares idílicos, surreais ou verdadeiros?

É nessa relação conflitante e tempestuosa que vive homem “entre o céu e a terra”.

Assinatura Giovanna Nucci